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quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Capítulo Um - Parte Dois


Tirou o manto dos ombros, com um gesto; lá dentro do pátio estava mais quente, fora do alcance do vento cortante. E ali, quando a cerração rodopiou e esgarçou-se, pairou à sua frente, por um momento, uma figura vinda da bruma de da névoa: sua meia-irmã, Viviane, a Senhora do Lago, a Senhora da ilha sagrada.

– Irmã! – As palavras tremeram, e Igraine sabia que não as havia gritado, mas apenas murmurado, as mãos apertadas contra o peito. – É você, realmente, que eu vejo aqui?

O rosto tinha um ar de censura, e as palavras pareciam desaparecer no som do vento, além das muralhas.

Você abandonou a visão, Igraine? De sua livre vontade?

Magoada pela injustiça dessas palavras, Igraine respondeu:

– Foi você quem determinou que eu devia desposar Gorlois... –, mas a forma de sua irmã desaparecera nas brumas, não estava ali, jamais estivera. Igraine pestanejou: a rápida aparição se fora. Envolveu-se no manto, pois sentiu frio, muito frio: sabia que a visão tirava a sua força do calor e da vida de seu próprio corpo. Pensou: Não sabia que eu ainda podia ver dessa maneira, tinha certeza de que não podia mais... e estremeceu, sabendo que o padre Columba consideraria isso obra do diabo, e que deveria confessar-se com ele. É certo que, ali no fim do mundo, os padres eram tolerantes, mas uma visão não declarada em confissão seria, sem dúvida, tratada como heresia.

Franziu as sobrancelhas: por que deveria tratar uma visita de sua irmã como obra do diabo? Padre Columba podia dizer o que quisesse, mas talvez o seu deus fosse mais sábio do que ele. Isso não seria muito difícil, pensou Igraine, reprimindo uma risada. Talvez padre Columba se tivesse tornado um sacerdote do Cristo porque nenhum colégio de druidas aceitara um homem tão estúpido. O Deus do Cristo parecia não importar-se com a inteligência de um padre, desde que este pudesse engrolar a missa e ler e escrever um pouco. Ela, Igraine, tinha mais instrução do que o padre Columba e falava melhor o latim, quando queria. Não se considerava, porém, instruída: não tivera força suficiente para aprofundar-se na visão mais profunda da Velha Religião, ou de penetrar nos Mistérios além do que era absolutamente necessário a uma filha da ilha sagrada. Mas embora fosse ignorante em qualquer Templo dos Mistérios, podia passar, entre os bárbaros romanizados, como mulher de cultura.

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