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quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Capítulo Um - Parte Três

Na pequena sala junto do pátio, onde havia sol nos dias limpos, sua irmã mais nova, Morgause, de treze anos e florescente, trajando um amplo vestido de casa, de lã sem tingir, e um velho e desgrenhado manto por sobre os ombros, fiava descuidadamente com um fuso simples, enrolando o fio desigual num carretel. No chão, junto à lareira, Morgana fazia rolar um carretel velho, como se fosse uma bola, observando as trajetórias caprichosas do cilindro assimétrico pelo chão, empurrando-o para um ou outro lado, com os dedos gorduchos.

– Será que já não fiei bastante? – queixou-se Morgause. – Meus dedos estão doendo! Por que tenho de fiar, fiar, fiar sempre, como se fosse uma criada?

– Toda dama tem de aprender a fiar – respondeu Igraine, como sabia que devia fazer –, e seu fio é muito malfeito, ora grosso, ora fino... Seus dedos perderão o cansaço, quando se habituarem ao trabalho. Dedos doloridos são indício de que você tem sido preguiçosa, já que não se acostumaram às suas tarefas.

Tomou de Morgause o carretel e o fuso, girando-os rapidamente com grande facilidade. O fio desigual, em suas mãos experientes, adquiriu uma espessura perfeita.

– Veja, pode-se tecer com este fio sem deixar falhas na lançadeira... – e de repente cansou-se de proceder como devia. – Mas, agora, pode deixar de lado o fuso. Antes do fim da tarde, teremos hóspedes.

Morgause olhou para ela.

– Não ouvi nada – disse. – Nem chegou cavaleiro algum trazendo mensagem!

– Isso não me surpreende – respondeu Igraine –, pois não veio nenhum cavaleiro. Foi uma Visão. Viviane está a caminho, e Merlim vem com ela.

Só teve intuição desse último detalhe no momento em que falou.

– Pode, portanto, levar Morgana para a ama, e vista o seu vestido dos domingos, o tingido de açafrão.

Morgause abandonou o fuso com alegria, mas fez uma pausa para olhar para Igraine:

– O vestido de açafrão? Para minha irmã?

– Não para nossa irmã, Morgause, mas para a Senhora de ilha sagrada, e para o Mensageiro dos Deuses.

Morgause olhou para baixo, para o chão decorado. Era uma jovem alta, forte, que começava a transformar-se em mulher; tinha um cabelo abundante e avermelhado como o de Igraine, e havia sardas em sua pele, embora ela colocasse cuidadosamente leite batido sobre as manchas, e implorasse à mulher que cuidava das ervas que lhe recomendasse banhos e plantas medicinais para tratá-las. Aos treze anos, já era tão alta quanto Igraine, e seria mais alta ainda. Pegou Morgana num gesto sem elegância, e levou-a consigo. Igraine gritou-lhe, já à saída:

–Diga à ama para vestir a menina com uma roupa de festa e depois você pode trazê-la aqui para baixo; Viviane ainda não a conhece.

Morgause resmungou qualquer coisa sobre a sua impossibilidade de compreender por que uma grã-sacerdotisa haveria de querer ver uma criancinha, mas falou baixo, e Igraine não ouviu.

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